A participação feminina nos campeonatos de taekwon-do

NO TOPO DO PÓDIO: A ASCENSÃO FEMININA NOS CAMPEONATOS

  Os campeonatos de Taekwon-Do têm uma história relativamente curta, em comparação com a longa história da arte marcial em si. As competições esportivas começaram a se desenvolver na década de 1950, após o estabelecimento do Taekwon-Do como arte marcial nacional da Coréia do Sul. Existem vários tipos de campeonatos, desde competições locais até internacionais. Geralmente, são divididas em várias categorias, incluindo faixa etária, sexo, peso e habilidade, de acordo com as características dos participantes. 


No Brasil, cada torneio possui suas próprias características e objetivos. Um dos principais campeonatos brasileiros é o Campeonato Brasileiro de Taekwondo, organizado pela Confederação Brasileira de Taekwondo (CBTKD). O torneio é realizado anualmente e é considerado o mais importante do país. Os competidores são avaliados de acordo com as regras da Federação Mundial de Taekwondo, que incluem pontos marcados com chutes e socos na cabeça e no tronco, assim como penalidades por conduta anti-desportiva.


Os campeonatos têm o objetivo de determinar o vencedor de cada título do campeonato, incentivar o desenvolvimento de amizades duradouras entre os praticantes de Taekwon-Do e para promover o aperfeiçoamento técnico. Com a realização do primeiro Campeonato Mundial em 1974, em Montreal, no Canadá, a ITF aumentou a qualidade e os padrões de organização. A padronização e aperfeiçoamento, a profissionalização, o desenvolvimento e a implementação de programas tecnológicos têm sido fundamentais para a evolução da arte da competição. Os Campeonatos Mundiais são realizados a cada dois anos e, para competir em um Campeonato Mundial, os participantes devem ser faixas pretas, campeões nacionais no seu país ou ser escolhido através de um teste. 


Durante a luta, dois praticantes de Taekwon-Do enfrentam-se num tatame com o objetivo de marcar pontos em seu adversário. Os pontos são concedidos por meio de chutes, socos e técnicas específicas, e o lutador com mais pontos no final da luta é declarado o vencedor. São conduzidas por um árbitro central e é obrigatório que os participantes usem equipamento de proteção, azuis ou vermelhos. Porém, técnicas de ataque com contato excessivo são punidas com pontos negativos, o objetivo não é machucar, mas sim, pontuar. Outro tipo de combate são as formas, não tão conhecidas pelas pessoas fora da arte marcial. As formas são movimentos padronizados executados com realismo contra adversários imaginários, prezando pela representação da arte e da técnica. Ao todo, o Taekwon-Do possui 24 formas que representam as 24 horas do dia. As competições femininas são iguais às masculinas em relação às regras, a única diferença são os pesos das categorias que no caso da olímpica são até 49 kg, até 57 kg, até 67 kg e acima de 67 kg, segundo a Confederação Brasileira de Taekwon-Do. Essas categorias são usadas para equilibrar a competição e garantir que as atletas tenham a oportunidade de competir contra outras atletas com pesos semelhantes. Dessa forma, as competições de Taekwon-Do feminino e masculino são estruturadas de forma semelhante em relação às regras, com a única diferença significativa sendo as categorias de peso específicas para cada gênero. Durante o torneio, o vencedor é determinado pela melhor técnica, poder, equilíbrio, controle da respiração e ritmo. Veja um exemplo de forma executada pela taekwondista e instrutora Mara Galbiati, 60. Ela faz com muita beleza o "Po-Eun", forma de faixa preta.


Uma das principais questões relacionadas ao machismo no Taekwon-Do é a disparidade de gênero na premiação em competições. De acordo com dados da BBC, em cerca de 30% das principais competições esportivas globais, as premiações em dinheiro para as vencedoras de modalidades femininas são menores do que as concedidas aos vencedores de modalidades masculinas, mesmo que a competição e a qualidade técnica sejam iguais. Mara afirma que, no início, dizia-se que a categoria feminina era necessária para fechar um campeonato, mas que nem sempre era a forma como as taekwondistas interpretavam. "Eu já vi diversas vezes em campeonato mundial que não tínhamos e não temos o mesmo peso. Dia a dia isso vem crescendo, mas o campeonato precisa de volume. Então nós, mulheres, entramos na história também, já que existe a necessidade da mulher para que o campeonato tenha um equilíbrio maior. Nós estamos evoluindo, mas muito aquém de tudo". afirma Mara. 


A taekwondista diz que não só os homens taekwondistas são machistas, mas as mulheres também. Sua experiência mais marcante durante uma competição aconteceu em São Paulo, quando ela decidiu sair da escola em que praticava o esporte desde o começo e mudar de associação, devido a uma situação complexa que passou, mas ainda se manteve na ITF. Depois que saiu, embora tenha explicado a todos os colegas o motivo da troca, a maioria dos alunos que treinavam ao seu lado não entenderam o motivo e a colocaram em uma posição de inimiga e traidora. Mara afirma que quando participou de um campeonato, suas antigas amigas e alunas do antigo professor passaram a querer cobrar o que tinha acontecido, tentando superar na competição e na luta. Ela diz que, bem no início, ao mesmo tempo que homens taekwondistas e graduados afirmavam que o time feminino deveria fechar um campeonato, nem sempre era a forma como as mulheres percebiam e interpretavam a fala. 

Estudantes no campeonato Pan-Americano em Santos, em 2018.

Mara Galbiati durante campeonato mundial em 2001, na Itália.

"O sentimento da conquista da medalha se resume na finalização, ou seja, eu passei pelo começo, pelo meio e pelo fim, e tudo deu certo. A jornada teve um final feliz. Porém, no momento seguinte, eu faço uma retrospectiva das coisas que aconteceram e reflito sobre o que ainda posso buscar e praticar mais. Eu tenho uma caixa de medalhas imensa, porque eu carrego as histórias, amo contá-las, mesmo quando comento o que eu julgo que foi frustrante, que fiquei triste, mas eu sinto que eu fui sempre vencedora", diz Mara.

Créditos da Imagem: Confederação Olímpica do Brasil.

Natália Falavigna é uma das taekwondistas mais bem-sucedidas do Brasil. Em 2003, conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo e, em 2007, alcançou um marco importante em sua carreira ao conquistar a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim, sendo a primeira medalhista olímpica da história do Taekwon-Do Brasileiro, um feito notável para a atleta. "Eu fico muito feliz em saber que essa medalha teve um grande impacto tão grande na minha carreira, no Taekwon-Do Brasileiro e no Sul-Americano. Fico contente e honrada, vejo que esse marco foi um momento importante não só pra mim, mas para várias pessoas. Você conquistar algo que consegue beneficiar não só você, mas todos que estão à sua volta, é muito bacana", diz Natália. 


Para a atleta, tem dois momentos marcantes durante as competições que chamam a sua atenção. Primeiro, quando a lutadora entra na área de aquecimento pela manhã, pois ao longo do dia, as áreas vão diminuindo  à medida que as rodadas de luta avançam, e muitas vezes, no final, apenas a atleta e sua oponente permanecem. Outro momento que se destaca para ela são as chamadas para as lutas, quando os atletas entram no túnel e descobrem se seu protetor será azul ou vermelho. Após muitas conquistas e medalhas que conquistou, Falavigna certifica que, quando o atleta se torna campeão, ela ganha muitos direitos, mas muito deveres a cumprir também. 

Hoje em dia, os campeonatos de Taekwon-Do são realizados em todo o mundo, desde competições locais até eventos internacionais de prestígio, como o Campeonato Mundial de Taekwon-Do e os Jogos Olímpicos. Esses eventos são uma oportunidade para os praticantes de Taekwon-Do competirem e demonstrarem suas habilidades em um ambiente de alto nível competitivo.